A recuperação de uma casa em um lote estreito, em uma rua sem saída, desafiou a arquiteta Fernanda Neiva a uma reforma radical. Ela demoliu paredes, integrou ambientes e conquistou uma planta livre.
Por Thamires Motta/ Fotos Pedro Kok (Divulgação)
Para a maior parte dos arquitetos, a reforma é sempre uma caixinha de surpresas, pois precisa ser planejada com muita atenção e, mesmo assim, sempre pode conter um imprevisto. Em um terreno fino e comprido, o sobrado de cerca de 190 m², em uma rua sem saída, ofereceu um desafio à arquiteta Fernanda Neiva, do escritório Galeria Arquitetos: compensar as dificuldades da pequena geometria da casa em um projeto com ambientes integrados. “A geometria sugeria uma intervenção sem barreiras, com a liberação da maior área possível para a circulação, dando fluidez na ocupação dos espaços”, conta ela.
Demolir ou reformar?
O primeiro obstáculo na reforma surgiu quando Fernanda decidiu retirar a escada transversal de dois níveis, que dividia o térreo em dois, com o objetivo de unir os espaços. A estrutura, no entanto, era frágil demais, e a arquiteta teve de decidir entre duas opções: reforçá-la ou demolir a casa. Depois de analisar bem as duas situações, a conclusão era de que ambas as opções teriam o mesmo investimento, embora a demolição garantisse uma reforma melhor.
“Conservamos a edícula, com lavanderia no térreo e acréscimo de suíte no andar superior. Praticamente mantivemos o projeto da reforma original, com exceção da ampliação no nível da casa, do aumento no pé-direito e de uma abertura zenital na escada, responsável por trazer mais iluminação para o interior”, explica a arquiteta.
Revestimento e integração: mais espaço
A solução deu tão certo que os 166 m² de área construída somam quase o total do terreno. Living e cozinha tornaram-se um só, organizados em pavimentos por uma estante de concreto de 13 metros – de ponta a ponta, ela serve às salas de estar e jantar e à cozinha. O móvel, construído com módulos de MDF cru, agrega armários, bancadas e apoios, garantindo uma solução econômica, pois pode ser feita durante a parte civil da obra.
No primeiro andar, a reforma das áreas de circulação e do quarto foi focada nos revestimentos. Os ambientes, revestidos e integrados com madeira, ganharam o mesmo material dos batentes da escada. As fachadas têm painéis de madeira ripada feitos para camuflar a janela do tipo “porta balcão”. O revestimento dá a rusticidade ao ambiente sem perder o charme e o aconchego.
Já a cozinha, tem acabamento de uma exuberante ilha de corian na cor vermelha e piso branco de granilite. Os materiais oferecem estilo na hora de cozinhar e receber amigos. Caixilhos blindex envidraçados permitem uma vista da edícula, e entre a casa e o ambiente fica uma área de lazer com churrasqueira e deck. “O térreo é o social da casa, interligado e integrado visualmente da entrada até os fundos”, conta Fernanda Costa.
A decoração precisava oferecer um ambiente clean e sofisticado ao mesmo tempo. Na sala, sofás de couro preto, cadeiras transparentes e elementos vintage, como um pequeno rádio antigo, revelam a personalidade dos moradores.
Luz natural e solário: conforto e lazer
Acima da escada, que conduz ao quarto, uma claraboia deixa a luz natural entrar no ambiente. O projeto luminotécnico otimiza a claridade no interior e dispensa a necessidade de luz artificial durante o dia, uma solução econômica e sustentável. As janelas maximizadas durante a reforma e as portas envidraçadas também são fontes de luz natural.
Ao acessar a escada marinheiro e atravessar um alçapão deslizante, é possível chegar ao solário, um terraço dotado de uma bela vista do bairro. Ele também serve como uma área de lazer da casa, tornando-a mais espaçosa. O solário, dividido entre área de deck, com piso revestido em madeira, e área de pergolado, recebeu caibros de madeira rústica durante a reforma, para abrigar um telhado verde no futuro. O conforto térmico é assegurado por pequenas pedras de argila arredondadas e leves.
Quem fez o quê?
Projeto: Galeria Arquitetos – Fernanda Costa Neiva (autora), Júlia Pinheiro Ribeiro (colaboradora)
Construção: José Ivanir Donato